O novo mundo, tecnológico, pandêmico e cada vez mais globalizado e competitivo, alimenta questionamentos e inquietações em empregadores e empregados e, em paralelo a angústia coletiva, como não poderia deixar de ser, faz brotar uma dezena de artigos e teses que tentam responder a pergunta que não quer calar: como ter qualidade de vida e, ao mesmo tempo, manter a produção e o rendimento neste cenário atual? Por um lado, revelam estudos e pesquisas, as organizações sentem necessidade de encontrar novas formas de controle da mão de obra, especializada ou não, exatamente na contramão do desejo cada vez mais latente da força produtiva na busca pelo equilíbrio entre prazer e trabalho. Fato é que nunca se falou tanto sobre qualidade de vida no trabalho. Incontestável também é que o investimento no bem-estar dos colaboradores traz diversos efeitos positivos, como o maior comprometimento dos profissionais. Segundo pesquisa da Sodexo, empresas que se preocupam com essa questão são, em média, 8 6% mais produtivas. A aquisição de bens de consumo esteve tradicionalmente atrelada ao culto do “bem viver” como consequência direta do efeito do trabalho. Tipo, quem produz tem ou pode ter. Mas o mundo é dinâmico e as relações interpessoais, em todas dimensões (familiares, trabalho, social) também. O que há bem pouco tempo servia como termômetro para medir a qualidade de vida, ou pelo menos para garantia de um certo conforto, vai perdendo significado e sentido diante da busca incessante por mais tempo livre, tranquilidade, lazer e segurança. E com as relações tradicionais de trabalho cada vez mais deterioradas, seja pela perda de direitos trabalhistas, seja por exigência de um mercado cada vez mais informal e tecnológico, impõem-se novos critérios e conceitos na relação empresa x profissional, o que ganhou contornos ainda mais persuasivos e porque não dizer decisivos, com a pandemia da Covid 19. Assim, o que já era uma tendência acabou virando tábua de salvação para as empresas e mais um desafio para profissionais como veremos mais adiante. Se antes da pandemia o custo de cada colaborador era uma dor de cabeça para o empregador, somando-se a salário e impostos os gastos com logística (o que inclui, energia, água, material, segurança, transporte etc), com a pandemia em pleno boom tecnológico da
comunicação (vide a importância e a utilização das redes sociais), o home-office apontou para outras possibilidades, sempre com lucro ou pelo menos com grande economia para o empregador. Já o profissional, empregado, colaborador ou prestador de serviço, que num primeiro momento enxergava no home-office a possibilidade de ficar mais perto da família, fazer os próprios horários, economizar com transporte e vestuário e enfim ter mais qualidade de vida, se deparou com uma realidade nem tão equacionada como sempre imaginou. O home-office exige concentração, um espaço próprio para a realização das tarefas, além de uma disciplina que antes era imposta e garantida, a ferro e fogo, pelo cartão de ponto. No novo cenário o trabalhador depende não somente da fundamental e imprescindível compreensão dos familiares, mas também dos chefes que nesse novo modelo nem sempre respeitam horários consagrados, como almoços, jantares, etc. Como resultado, o mundo moderno se depara, mais uma vez, como uma questão que, vimos, começou lá na revolução industrial. Como produzir o exigido e manter a qualidade de vida? Mudam as formas, as relações, mudam patrões, empregados e máquinas, mas a dupla jornada e o trabalho incansável e ininterrupto seguem como desafios cada vez maiores para quem ainda aposta que a tecnologia é uma aliada do trabalho e uma porta para o bem viver. Será?